Polícia vai apurar esquema de desvio de verba em cirurgias pagas pelo plano de saúde do Correios

 

Medida será tomada após gasto de R$ 961.886,56 com material cirúrgico usado numa única operação


O Globo
28/08/13

 

RIO – A Polícia Federal vai abrir inquérito para apurar um esquema de desvio de verba por meio de cirurgias superfaturadas pagas pelo plano de saúde do Correios. O pedido de apuração foi protocolado, nesta terça-feira, pelo defensor público da União Daniel Macedo, com base em reportagem do EXTRA que revelou o pagamento de R$ 961.886,56 por material cirúrgico usado numa única operação. O material foi vendido pelo representante oficial no Brasil, a Technicare Instrumental Cirúrgico, por R$ 65.208 para a AC Consultoria e Assessoria em Saúde, empresa cujo dono é investigado pela Polícia Civil, após denúncias de que se apresentaria em nome do então gerente de saúde da Correios para propor esquema de superfaturamento. Os mesmos itens foram vendidos por 1.375% a mais pela O2 Surgical para o Correios.
 
Na Civil, o inquérito que apura o suposto esquema de corrupção ativa foi instaurado após denúncia encaminhada à Delegacia de Defraudações pelo Ministério Público estadual. De acordo com o autor da denúncia, que se identifica como diretor de um hospital conveniado ao Correios, o médico Carlos Alberto Alonso Filho se apresentaria em nome do então gerente de saúde da estatal, Marcos da Silva Esteves, propondo um esquema de corrupção envolvendo médicos, empresas fornecedoras de próteses e hospitais.
 
Alonso teria proposto ao diretor de hospital a “emissão de duas notas fiscais por mês — uma com o movimento e outra, sem” ou “superfaturar orçamento de material de OPME (órteses, próteses e materiais especiais) para pacientes que realizaram cirurgias de emergência, pois assim não precisaria fazer cotação com três empresas”.
 
Marcos Esteves, que era gerente de saúde do Correios quando autorizou o pagamento de quase R$ 1 milhão pela lista de 15 itens, entre parafusos, porcas e broca, para uma cirurgia de coluna, afirma que não conhece Carlos Alonso nem os sócios da O2 Surgical.
 
— Não me lembro da autorização de pagamento de material cirúrgico para essa operação especificamente. Lá, assinamos muitas guias para cirurgias — diz ele.
 
O Correios afirmou, na semana passada, que “as medidas pertinentes a essa ocorrência estão em andamento” e não se manifestará mais a respeito. Procurado, o administrador da O2 Surgical, Nivaldo Lopes de Oliveira Neto, não quis falar e desligou o telefone. A reportagem tentou localizar o médico Carlos Alonso em diversos números de telefones, sem sucesso.
 
Fraude envolveria empresas
 
A denúncia publicada pelo EXTRA, em 19 de agosto, de superfaturamento em uma única cirurgia paga pelo plano de saúde do Correios foi incluída no inquérito em andamento na Polícia Civil sobre corrupção ativa na estatal. O caso da operação de coluna de uma idosa de 80 anos, mãe de um funcionário da estatal, ajuda a elucidar o esquema que envolveria sócios de empresas de material cirúrgico.
 
A AC Consultoria, que comprou o material por R$ 65.208 tem como sócios Carlos Alberto Alonso Filho e Aline Gomes de Oliveira. Alonso também é dono do Centro de Clínica Médica e Fisiatria Dr. Carlos Alonso, em Petrópolis, no qual é sócio de Gilberto Silva Cabral. Esse último aparece ainda como sócio da O2 Surgical, empresa que vendeu o mesmo material para os Correios por R$ 961.886,56.
 
A guia de autorização, com data de 26 de março e liberada pelo então gerente de saúde do Correios, Marcos Esteves, informava que o procedimento era de emergência — o que foi desmentido pelo médico que realizou o procedimento — e trazia o preço de um só fornecedor, a O2 Surgical.
 
Gilberto Silva Cabral não foi localizado pelo EXTRA.

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