Justiça bloqueia conta do Mellon no Brasil a pedido de fundo dos Correios

Folha.com

23/08/2014

 

A Justiça do Rio decretou nesta sexta-feira (22) o bloqueio de R$ 197,8 milhões das contas do Bank of New York Mellon no Brasil, a pedido do fundo de pensão Postalis (dos funcionários dos Correios), segundo a Folha apurou.

 

A entidade quer receber esse dinheiro do banco americano como indenização por perdas com títulos da dívida argentina, reduzidos a pó depois do calote do governo daquele país em credores, semanas atrás.

 

As perdas ocorreram no fundo de investimentos Brasil Sovereign II, do qual o Postalis é o único cotista. O Mellon é o administrador desse fundo, que era gerido por uma outra empresa, chamada Atlântica.

 

Embora o Brasil Sovereign tivesse que aplicar 80% dos recursos em títulos da dívida brasileira, ele tinha a maior parte investido em papéis da Argentina, da Venezuela e de sua estatal de petróleo, a PDVSA. Além disso, a Atlântica superfaturou os preços dos papéis em mais de R$ 79 milhões.

 

Na visão do Postalis, o banco americano foi “negligente e imprudente” no papel de administrador desse investimento. Como a Atlântica, então gestora do fundo, fechou as portas e seus donos sumiram do mapa, o Postalis quer que o New York Mellon pague agora pelo prejuízo.

 

QUEIXA NO BC

 

Pressionados pelo desastre nas contas do Postalis, que acumula um déficit de R$ 1,9 bilhão nos últimos dois anos, os diretores da entidade resolveram culpar o Mellon, que administra a maior parte de seus investimentos, por parte de seus prejuízos.

 

A Folha apurou que nesta sexta a entidade pediu também ao Banco Central a apuração de supostas irregularidades cometidas pelo Mellon na administração de 11 fundos de investimento, nos quais a fundação dos Correios aplicou R$ 2 bilhões.

 

Na queixa feita ao BC,o Postalis acusa o banco de fazer investimentos fora das regras definidas em lei para os fundos de pensão –como aplicações acima do teto permitido em papéis de bancos e investimentos fora do regulamento dos fundos.

 

INFLUÊNCIA POLÍTICA

 

Responsável pela poupança para a aposentadoria de 130 mil carteiros e funcionários dos Correios, o Postalis é o maior fundo de pensão do país em número de contribuintes. Tem patrimônio de R$ 8 bilhões, mas vive sob ameaça de intervenção por causa da péssima situação de suas contas.

 

Os diretores do Postalis não quiseram se manifestar, mas profissionais contratados para assessorar a fundação atribuem os maus investimentos dos últimos anos a diretores de gestões anteriores, indicadas pelo PMDB.

 

Nos últimos dois anos, parte desses dirigentes foram substituídos –agora por alguns ligados ao PMDB e outros ao PT. Embora a influência política não tenha acabado, a tarefa da nova gestão agora seria tentar a redução do prejuízo para evitar uma intervenção.

 

De um ano para cá, a fundação tirou cerca de R$ 700 milhões de investimentos considerados ruins e colocou o dinheiro em títulos do governo, mais seguros.

 

Mesmo assim, o passivo é grande, puxado por aplicações duvidosas como as que foram feitas nos bancos Cruzeiro do Sul e BVA ou na financeira Oboé, todos liquidados pelo BC.

 

Só em fundos que tinham na carteira empréstimos bichados do BVA, o Postalis tinha R$ 350 milhões aplicados. E ninguém descarta que, com o tempo, novos esqueletos possam aparecer.

 

OUTRO LADO

 

O Bank of New York Mellon vai recorrer da decisão.

 

“Esta decisão de investimento (o Brasil Sovereign II)foi feita pelo gestor do fundo de investimento escolhido pelo Postalis e não nos responsabilizamos pelas ações do Postalis e de terceiros sobre as quais não tivemos qualquer controle”, afirmou o banco, em nota.

 

O Mellon não se manifestou sobre a representação feita pelo Postalis ao BC, até o fechamento desta edição.

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