Esquema de corrupção nos Correios usava código para destino de verba

G1

20/11/2014

 

Depois de mostrar com exclusividade o depoimento que revelou detalhes do funcionamento de um suposto esquema de corrupção nos Correios do Rio para desviar verba no fundo de saúde, o RJTV revelou nesta quinta-feira (20) o destino do dinheiro e o código usado por suspeitos para se referir ao local. O advogado do ex-funcionário da companhia, João Maurício Gomes da Silva, disse que o seu cliente revelou que a verba ia para Brasília e os suspeitos se referiam à cidade como “igreja”.

 

Investigações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal desvendaram o caminho que o dinheiro percorria, saindo dos cofres dos correios até chegar às mãos dos integrantes da quadrilha. Segundo o RJTV, o esquema envolvia médicos, hospitais e empresas de material cirúrgico e o papel dos médicos na fraude era transformar cirurgias de rotina em casos urgentes.

 

O caráter emergencial livrava os suspeitos de cotações de preço. Os hospitais ligados ao grupo aceitavam o procedimento, e encomendavam materiais superfaturados.

 

Empresas previamente selecionadas vendiam os materiais cirúrgicos por valores até 900% acima do preço real.  O dinheiro pago a mais era devolvido pela empresa de material médico e distribuído para todos os participantes da fraude.

 

Como mostrou o RJTV, por uma cirurgia que custava R$ 60 mil, o plano de saúde dos Correios chegou a pagar R$ 900 mil.

 

Os detalhes foram revelados por João Maurício, que entrou na estatal como carteiro e chegou ao segundo posto da hierarquia da empresa no Rio. Depois de confessar ter participado do esquema de 2011 a 2013, João Maurício fez um acordo de delação premiada, e revelou quanto cada um dos envolvidos ganhava.

 

“A média no inicial de acordo com as investigações na qual eu tomei conhecimento chegava no mínimo cem mil reais por mês”, afirma.  Ele acusa o ex-diretor regional dos correios no Rio, Omar de Assis Moreira, de comandar a cobrança de propina para desviar dinheiro do plano de saúde dos funcionários.

 

No depoimento aos procuradores, João Maurício disse que o ex-chefe chegou a pedir a ele que conseguisse um emprego para a filha. Disse ainda que o emprego foi conseguido por um dos integrantes da quadrilha, numa empresa de material cirúrgico que veio a participar do esquema.

 

Segundo o Ministério Público, as fraudes comprovadas até agora chegam a R$ 7 milhões. Mas, pelas provas e depoimentos colhidos até agora, o valor que foi desviado dos correios pode ter sido muito maior.

 

Segundo o advogado de João Maurício, o dinheiro arrecadado com a fraude não ficava só com a quadrilha no Rio. Os envolvidos criaram um código: chamavam de “dinheiro da igreja” uma parte do valor que seria desviada para pessoas em Brasília.

 

A nomenclatura utilizada pelo João Mauricio e os demais é que esses valores seriam destinados à igreja e seria Brasilia, especificadamente constando nos autos do MPF.

 

Correios se pronunciam

 

Segundo os Correios, casos com indícios de fraudes dessa natureza foram identificadas pelos mecanismos de controle da empresa e o então diretor regional do Rio de Janeiro, Omar de Assis Moreira, solicitou à PF investigação sobre o assunto, em junho de 2013, além de instaurar processo de sindicância interno e constituir grupo de trabalho para apoiar a apuração da PF.

 

Ainda de acordo com a empresa, em setembro de 2013, a Administração Central dos Correios em Brasília também encaminhou denúncia sobre o assunto ao Ministério Público Federal.  Os casos sob suspeita estão listados na investigação interna, que está em fase final, com acompanhamento da Controladoria Geral da União (CGU). Os Correios afirmam que não têm conhecimento de envolvimento de empregados de Brasília em qualquer irregularidade relacionada à gestão do plano de saúde no Rio de Janeiro, bem como questionam a existência de provas que comprovem declarações tão graves.

 

A empresa também acrescentou que o diretor regional está atualmente afastado por determinação judicial para preservar a condução de processo judicial sobre o assunto e acrescenta que, caso as irregularidades sejam comprovadas, os responsáveis serão punidos conforme previsto nos normativos internos e na legislação brasileira. Até que isso ocorra, a empresa repudia o pré-julgamento de quaisquer funcionários com base em suspeitas ou denúncias que ainda não estejam comprovadas.

 

O RJTV tentou contato com Omar Moreira que, no entanto, não foi localizado para responder às acusações.

 

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/11/esquema-de-corrupcao-nos-correios-usava-codigo-para-destino-de-verba.html

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